Northern Data, apoiada pela Tether, vendeu braço de mineração de bitcoin para empresas administradas pelos próprios executivos da Tether, diz FT

A Northern Data, empresa alemã de IA e data center majoritariamente controlada pela Tether, vendeu sua subsidiária de mineração de bitcoin, a Peak Mining, por até US$ 200 milhões para um grupo de empresas controladas pelos principais executivos da gigante das stablecoins, conforme relatado primeiramente pelo Financial Times na sexta-feira.

Registros corporativos mostram que os compradores da Peak Mining—Highland Group Mining Inc., Appalachian Energy LLC e 2750418 Alberta ULC—estão diretamente ligados à liderança da Tether. Registros das Ilhas Virgens Britânicas indicam que a Highland Group Mining é controlada por Giancarlo Devasini, cofundador e presidente da Tether, e Paolo Ardoino, CEO da empresa. Documentos canadenses listam Devasini como o único diretor da Alberta ULC. A propriedade da Appalachian Energy LLC, registrada em Delaware, permanece opaca, sem diretores listados publicamente.

A Northern Data anunciou o desinvestimento da Peak Mining em novembro, mas inicialmente não identificou os compradores. A empresa está listada em um segmento de mercado alemão regulado, porém não oficial, que exige certas divulgações corporativas, mas não obriga o reporte de transações entre partes relacionadas, o que significa que não havia obrigação de revelar que executivos da Tether estavam em ambos os lados do acordo.

A venda marca a segunda tentativa de transferir a Peak Mining para entidades ligadas a Devasini. Em agosto, a Northern Data anunciou um acordo não vinculativo para vender a unidade de mineração para a Elektron Energy por US$ 235 milhões. Segundo registros das Ilhas Virgens Britânicas, a Elektron também é controlada por Devasini. Esse acordo nunca foi concluído, e a Peak Mining acabou sendo vendida por um preço menor para o trio de empresas identificadas nos registros recentes.

O momento adiciona ainda mais complexidade. Poucos dias após o anúncio da venda da Peak Mining, a Rumble, plataforma de vídeos conservadora na qual a Tether detém uma participação de 48%, assinou um acordo de combinação de negócios para adquirir a Northern Data por aproximadamente US$ 767 milhões. Segundo esse acordo, a Tether se comprometeu a comprar US$ 150 milhões em serviços de GPU da Rumble e assinou um contrato publicitário separado de US$ 100 milhões.

A Tether também concedeu um empréstimo de €610 milhões à Northern Data. Pelos termos da aquisição pela Rumble, metade desse empréstimo será convertida em ações da Rumble no fechamento do negócio, com o restante se tornando um novo empréstimo da Tether para a Rumble, garantido pelos ativos da Northern Data. Tether, Northern Data e Rumble não responderam imediatamente a um pedido de comentário feito pelo The Block. 

Reguladores têm examinado a Northern Data

A transação ocorre em meio a um escrutínio regulatório mais amplo sobre a Northern Data. Em setembro, autoridades europeias invadiram os escritórios da empresa na Alemanha e na Suécia como parte de uma investigação sobre suposta fraude de IVA em larga escala, potencialmente superior a €100 milhões. A Northern Data negou irregularidades, atribuindo a investigação a um "mal-entendido sobre o tratamento fiscal" relacionado aos seus serviços de nuvem de GPU e operações legadas de mineração de criptomoedas.

As buscas ocorreram após a rejeição de um processo judicial que fazia alegações semelhantes. Em abril de 2024, os ex-executivos da Northern Data nos EUA, Joshua Porter e Gulsen Kama, processaram a empresa, alegando que ela estava "praticamente insolvente" e "deliberadamente cometendo evasão fiscal na ordem de dezenas de milhões de dólares". Porter, ex-CEO da América do Norte, afirmou na denúncia que descobriu que a empresa tinha uma dívida tributária de US$ 30 milhões na Alemanha e apenas US$ 17 milhões em caixa, com uma queima mensal de US$ 3-4 milhões. Kama, ex-vice-CFO do grupo, alegou que o CEO Aroosh Thillainathan a pressionou para encontrar auditores que trabalhassem "sem fazer perguntas" após a KPMG levantar dúvidas sobre a liquidez da empresa.

A Northern Data classificou o processo como "um exemplo clássico de litígio de má-fé". Em outubro de 2024, Porter e Kama desistiram voluntariamente de todas as reivindicações. Declarações fornecidas por meio de uma empresa de comunicação associada à Northern Data afirmaram que ambos "entenderam/relataram erroneamente os fatos" e não foram demitidos por denunciarem irregularidades. Nenhum detalhe sobre qualquer acordo foi divulgado, e nenhum dos autores comentou publicamente sobre o que os levou a retirar as alegações que haviam feito anteriormente sob juramento.

A Tether, acionista majoritária da Northern Data com aproximadamente 54% de participação, tem expandido agressivamente sua atuação em mineração de bitcoin. O CEO Ardoino declarou no início deste ano que a Tether pretende se tornar a maior mineradora de bitcoin do mundo até o final de 2025, citando a necessidade de proteger seus mais de US$ 10 bilhões em reservas de bitcoin. Segundo declarações anteriores, a empresa já investiu mais de US$ 2 bilhões em infraestrutura de mineração e energia em 15 locais no Uruguai, Paraguai e El Salvador.

A emissora da stablecoin também enfrenta seus próprios desafios. Recentemente, a S&P Global Ratings rebaixou a avaliação de estabilidade do USDT da Tether para 5, o nível mais fraco em sua escala, alertando que a exposição da stablecoin ao bitcoin agora excede sua reserva de garantia e pode deixar o USDT subcolateralizado em uma queda de mercado.