Austrália planeja regras bancárias para cripto — o que isso significa para os mercados
Após ações de destaque contra a Binance, a Austrália está avançando com um marco regulatório para impor padrões semelhantes aos bancários nas plataformas de negociação de criptomoedas.
- O projeto de lei preliminar da Austrália, divulgado em 25 de setembro, traria exchanges e provedores de custódia sob a licença AFSL e supervisão da ASIC, estendendo a legislação de serviços financeiros para plataformas de cripto.
- A proposta introduz plataformas de ativos digitais e plataformas de custódia tokenizada, visando intermediários que detêm ativos de clientes, enquanto exclui carteiras de autocustódia e emissores de stablecoins por enquanto.
- As penalidades estão alinhadas com a legislação corporativa: até A$16,5 milhões, três vezes os ganhos obtidos ou 10% do faturamento, com plataformas menores possivelmente isentas conforme limites estabelecidos.
- As reformas refletem o MiCA na Europa e propostas do Reino Unido, podendo remodelar o mercado cripto australiano por meio de custódia mais segura, custos de conformidade mais altos e consolidação entre grandes players.
Índice
- Austrália avança com regras bancárias para cripto
- Regras de custódia, guias de plataforma e penalidades
- Como o projeto australiano se encaixa no cenário global
- Adoção de cripto enfrenta novo teste regulatório
Austrália avança com regras bancárias para cripto
A Austrália está se preparando para estender a legislação de serviços financeiros às plataformas de cripto. Em 25 de setembro, o governo divulgou um rascunho preliminar detalhando como exchanges e empresas de custódia seriam incluídas no marco existente.
O Ministro Assistente do Tesouro e de Serviços Financeiros, Daniel Mulino, apresentou a proposta na cúpula regulatória do Digital Economy Council. A consulta permanecerá aberta até 24 de outubro, após o que o Tesouro decidirá os próximos passos.
O rascunho cria duas novas categorias na Lei das Sociedades Anônimas: “plataformas de ativos digitais” e “plataformas de custódia tokenizada.”
Empresas nessas áreas seriam obrigadas a obter uma Licença de Serviços Financeiros Australiana (AFSL), a mesma licença usada para produtos tradicionais de custódia, mas com obrigações adicionais específicas para cripto.
Exchanges e provedores de custódia que detêm tokens de clientes enfrentariam padrões de conduta, divulgação e supervisão definidos pela Australian Securities and Investments Commission.
O avanço ocorre após recentes ações de fiscalização que expuseram lacunas na supervisão. A ASIC processou a Binance Australia Derivatives em dezembro de 2024 por alegações de classificação incorreta de clientes de varejo. Em agosto de 2025, a AUSTRAC ordenou que a unidade local da Binance nomeasse um auditor externo como parte da conformidade com a legislação de combate à lavagem de dinheiro.
Regras de custódia, guias de plataforma e penalidades
O rascunho preliminar define como a Austrália planeja regular serviços de cripto baseados em custódia.
Uma “plataforma de ativos digitais” é definida como um arranjo em que um operador detém tokens para clientes e pode lidar com transferências, negociações, staking ou market making.
Uma “plataforma de custódia tokenizada” é onde um operador detém um ativo subjacente, como uma commodity ou valor mobiliário, e emite um token que registra os direitos dos clientes.
Ambas as categorias visam intermediários que agrupam ou controlam ativos de clientes, em vez de classificar os próprios tokens como produtos financeiros. Quando um ativo subjacente já se qualifica como produto financeiro, o token que registra a propriedade seria tratado como participação nesse produto.
O rascunho prevê exclusões. Softwares não custodiais, como carteiras auto-hospedadas e formadores de mercado automatizados, ficam fora do regime, já que os operadores não tomam posse ou controle dos ativos dos clientes.
Emissores de stablecoins também estão excluídos neste estágio, com o Tesouro confirmando que serão tratados separadamente sob reformas de licenciamento de pagamentos.
As obrigações de licenciamento focam em padrões operacionais e proteção ao cliente. As plataformas devem atender aos critérios definidos pela ASIC para manuseio de transações, liquidação e salvaguarda de ativos.
Cada operador também seria obrigado a publicar um “Guia da Plataforma” estabelecendo os termos de custódia, funções do serviço, taxas, riscos e deveres de relatório.
Esses requisitos são baseados na legislação existente de serviços financeiros, incluindo proibições de conduta enganosa, restrições a termos contratuais injustos e regras sobre design e distribuição. A intenção é oferecer aos clientes proteções comparáveis às que receberiam se acessassem diretamente os ativos subjacentes.
As penalidades por violações estão alinhadas com o quadro de penalidades corporativas. As sanções civis podem chegar ao maior valor entre A$16,5 milhões, três vezes o benefício obtido ou 10% do faturamento anual, limitado a 2,5 milhões de unidades de penalidade.
O Tesouro também levantou preocupações sobre proporcionalidade, com serviços menores potencialmente isentos se detiverem menos de A$5.000 por cliente ou processarem menos de A$10 milhões em volume anual, embora a consulta decida os limites finais.
Declarações do governo citam riscos recorrentes relacionados à custódia como justificativa para a abordagem. Saques congelados, fundos de clientes misturados, negociações proprietárias não divulgadas, governança fraca e roubo cibernético surgiram quando grandes volumes de ativos ficaram com provedores não regulados.
Como o projeto australiano se encaixa no cenário global
O projeto australiano é melhor compreendido em comparação com outras jurisdições que estão moldando regras para cripto.
Na União Europeia, o Markets in Crypto-Assets Regulation estabelece o padrão. As regras para e-money e tokens referenciados em ativos entraram em vigor em junho de 2024, seguidas pelo marco mais amplo para provedores de serviços em dezembro de 2024.
Um período de transição se estende até 2026, dando tempo para os reguladores implementarem o licenciamento. O efeito já é visível, com exchanges ajustando ou retirando stablecoins e provedores de serviços preparando pedidos de autorização.
Diferente da abordagem australiana via ASIC e Lei das Sociedades Anônimas, o MiCA é um estatuto criado especificamente, com padrões técnicos supervisionados pela ESMA e EBA.
O plano do Reino Unido situa-se entre a UE e a Austrália. Instrumentos legais preliminares publicados em abril de 2025 incorporariam cripto ao Financial Services and Markets Act, com a FCA responsável pelas regras detalhadas.
O modelo se baseia na legislação existente, mas cria um perímetro distinto para cripto, refletindo um híbrido entre o marco personalizado do MiCA e a dependência australiana do licenciamento AFSL.
A América do Norte mostra maior divergência. O Canadá exige que plataformas se registrem ou firmem compromissos de pré-registro sob a legislação de valores mobiliários, com obrigações sobre custódia, segregação de ativos e tokens permitidos.
Os EUA ainda não possuem um regime federal completo. Em julho de 2025, o Congresso aprovou o GENIUS Act para regular stablecoins de pagamento, deixando ao Tesouro o desenho da implementação, enquanto outros projetos de lei permanecem pendentes.
Em janeiro de 2025, a SEC retirou seu processo contra a Coinbase, marcando um recuo em relação à fiscalização federal anterior, enquanto regimes estaduais como o BitLicense de Nova York permanecem em vigor.
A Ásia apresenta outros contrastes. Cingapura finalizou um marco para stablecoins em agosto de 2023, cobrindo tokens atrelados ao dólar de Cingapura ou moedas do G10, juntamente com licenciamento sob o Payment Services Act.
Hong Kong aprovou legislação em maio de 2025 exigindo que emissores de stablecoins sejam licenciados a partir de agosto de 2025, embora nenhum emissor tenha sido listado até o momento.
O Japão permanece como o exemplo mais consolidado, com licenciamento de exchanges desde 2017 e medidas mais rígidas após falhas locais. Em março de 2025, a Financial Services Agency sinalizou emendas previstas para 2026 que tratariam alguns tokens como produtos financeiros e aplicariam regras de insider trading.
O projeto australiano, portanto, posiciona o país entre as jurisdições que estendem a legislação financeira existente ao cripto, em vez de criar códigos totalmente novos. Se aprovado, o projeto estabeleceria uma rota nacional única de licenciamento para exchanges e custodians, enquanto deixaria a supervisão de stablecoins para a legislação de pagamentos.
Adoção de cripto enfrenta novo teste regulatório
A experiência internacional sugere que o impacto nos produtos pode ser tangível. As regras para stablecoins do MiCA começaram a ser aplicadas na União Europeia em 2024, e as exchanges já ajustaram suas ofertas de produtos para se preparar para a conformidade.
Uma mudança semelhante é possível na Austrália assim que o licenciamento de stablecoins de pagamento for introduzido e as obrigações do AFSL entrarem em vigor. Plataformas capazes de absorver custos de licenciamento e conformidade têm mais chances de permanecer, indicando uma consolidação em torno dos grandes players.
Atividades recentes nas finanças tradicionais apoiam essa direção. Em setembro de 2025, o IG Group anunciou a aquisição de A$178 milhões da exchange Independent Reserve, sediada em Sydney, mostrando como instituições estabelecidas estão se posicionando para o novo regime.
O acesso bancário é outra área que provavelmente evoluirá. Bancos australianos impuseram limites a pagamentos para algumas exchanges nos últimos anos, citando riscos de golpes.
Operadores licenciados com padrões mais fortes de governança e custódia podem reduzir essas preocupações, melhorando o acesso aos sistemas de pagamento domésticos e reduzindo a dependência de contas no exterior.
Os fluxos de investidores também podem mudar. ETFs de bitcoin à vista foram lançados na Austrália em 2024, com emissores como VanEck, DigitalX e Monochrome na ASX e Cboe.
À medida que os padrões de custódia licenciados pelo AFSL se consolidam, a demanda de varejistas e consultores pode se concentrar ainda mais em fundos negociados em bolsa e locais licenciados, em vez de plataformas offshore.
Pesquisas do Independent Reserve Cryptocurrency Index mostram que cerca de 31% dos adultos australianos possuíam ou já possuíram cripto em 2025, acima dos cerca de 28–29% do ano anterior.
Para esse grupo, salvaguardas mais fortes, mecanismos de reclamação e normas de custódia testadas podem reduzir perdas em caso de falha. Ao mesmo tempo, os custos de conformidade podem elevar taxas, as listas de tokens podem se estreitar e produtos do tipo yield podem enfrentar maior escrutínio.
A variável chave é o tempo. A consulta vai até 24 de outubro e, se o projeto avançar com poucas mudanças, espera-se que 2026 marque o início das transições de licenciamento e o primeiro impacto visível na disponibilidade de produtos, acesso bancário e no equilíbrio entre fundos cripto listados e plataformas de negociação direta.
Aviso Legal: o conteúdo deste artigo reflete exclusivamente a opinião do autor e não representa a plataforma. Este artigo não deve servir como referência para a tomada de decisões de investimento.
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