O novo sistema dos BRICS pode remodelar as finanças globais
Diante de um sistema financeiro global dominado por Washington, os BRICS estão acelerando a implementação de uma rede alternativa de pagamentos: o BRICS Pay. Este projeto, apoiado por um bloco expandido para dez países, visa reduzir a dependência do SWIFT e das sanções dos EUA. Mais do que uma simples iniciativa técnica, trata-se de uma aposta estratégica para remodelar a ordem monetária global e afirmar a soberania financeira em um mundo que se tornou multipolar.

Em resumo
- Os BRICS estão trabalhando na criação do BRICS Pay, um sistema de pagamentos alternativo projetado para reduzir a dependência do dólar e do SWIFT.
- Um protótipo foi apresentado em Moscou em 2024, baseado em uma arquitetura descentralizada e interoperável, sem taxas obrigatórias.
- O sistema se apoia em infraestruturas nacionais já existentes (SPFS, CIPS, Pix, UPI), mas sua integração ainda é parcial neste estágio.
- O BRICS Pay pode antecipar uma nova arquitetura monetária multipolar, embora sua implementação total ainda enfrente obstáculos técnicos e políticos.
Uma arquitetura em evolução: os fundamentos do BRICS Pay
Em outubro de 2024, um protótipo do BRICS Pay foi revelado em Moscou, marcando um avanço concreto na criação de um sistema de pagamentos transfronteiriços não ocidental.
Apresentado como um protocolo descentralizado de mensagens financeiras, o BRICS Pay foi projetado para permitir transações em moedas locais entre os países membros do bloco, contornando a rede SWIFT.
De acordo com o relatório do GIS, o sistema pretende ser open-source, sem taxas obrigatórias, e capaz de processar até 20.000 mensagens por segundo. Ele se baseia em uma arquitetura técnica voltada para a interoperabilidade entre redes nacionais, sem impor controle centralizado. O princípio é claro: cada país gerencia seu próprio nó, mantendo a compatibilidade com toda a rede.
As infraestruturas já existentes dos estados membros formam os pilares deste ambicioso projeto. Aqui estão os principais elementos que compõem a espinha dorsal técnica do BRICS Pay:
- Rússia: SPFS (System for Transfer of Financial Messages), uma alternativa direta ao SWIFT;
- China: CIPS (Cross-Border Interbank Payment System), acoplado ao UnionPay;
- Índia: UPI (Unified Payments Interface), um sistema de pagamentos instantâneos em larga escala;
- Brasil: Pix, uma plataforma pública de sucesso, frequentemente citada como exemplo de inovação;
- O objetivo comum: integrar essas redes por meio de protocolos padronizados para garantir transações suaves entre os BRICS.
Apesar dessa base sólida, ainda não surgiu uma versão unificada ou totalmente funcional do sistema. O trabalho de interconexão entre o SPFS e as outras plataformas ainda está na fase piloto.
Muitos desafios técnicos ainda precisam ser resolvidos: padronização de mensagens, segurança na transmissão, interoperabilidade efetiva e conformidade com os marcos regulatórios de cada estado. Neste estágio, o projeto BRICS Pay permanece mais uma ambição tecnológica do que uma ferramenta operacional.
Um instrumento de soberania contra as sanções dos EUA
Além das questões técnicas, este projeto se insere em uma lógica política de contestação à hegemonia financeira americana. O uso estratégico do dólar como instrumento de sanção, especialmente contra a Rússia e o Irã, alimentou o desejo dos países do Sul Global de construir uma rede paralela.
O congelamento das reservas russas após a invasão da Ucrânia em 2022 serviu como um alerta. Essa situação foi vista como um aviso por muitas potências emergentes, que percebem uma vulnerabilidade em sua exposição ao sistema do dólar.
Nesse contexto, as pressões exercidas por Donald Trump, de volta ao poder com uma retórica agressiva, fortaleceram a coesão dos BRICS. O presidente dos EUA ameaçou impor tarifas de até 100% a qualquer nação que adotasse uma moeda comum dos BRICS, e mais 10% caso fossem criados sistemas alternativos ao dólar.
Essas medidas, paradoxalmente, aceleraram a busca por alternativas. Em 2024, 90% do comércio da Rússia com outros membros dos BRICS já era realizado em moedas locais. Enquanto isso, a Índia intensificou seus acordos bilaterais em rúpias com a China e os Emirados, enquanto o Brasil fortaleceu sua cooperação financeira com Pequim.
Esses movimentos ainda não constituem uma ofensiva coordenada contra o dólar, mas sinalizam a intenção de várias grandes economias de se equiparem com mecanismos autônomos de câmbio, ainda que fragmentados.
No curto prazo, um sistema totalmente integrado parece fora de alcance, devido à diversidade de regulações, à não conversibilidade de certas moedas e às rivalidades geopolíticas internas. No entanto, a ideia de uma moeda dos BRICS para liquidações comerciais, lastreada por uma cesta de moedas ou commodities, está gerando interesse crescente. Esse tipo de instrumento, situado entre a inovação tecnológica e o compromisso diplomático, pode servir como uma ponte para a desintermediação progressiva do dólar, sem causar um choque sistêmico imediato.
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