
- A nova lei de cripto da Polônia impõe licenciamento rigoroso da KNF e pesadas penalidades.
- O setor alerta que as regras podem sufocar a inovação e empurrar empresas para o exterior.
- A decisão do presidente pode determinar o futuro do mercado cripto da Polônia.
A Polônia avançou para promulgar uma das leis de criptomoedas mais rigorosas da Europa, atraindo críticas contundentes de líderes do setor e provocando um intenso debate político.
A legislação, apresentada como uma interpretação do regulamento Markets in Crypto-Assets (MiCA) da União Europeia, visa fortalecer a supervisão e proteger os investidores, mas levantou preocupações de que pode sufocar a inovação e levar empresas para fora do país.
Regras mais rígidas ganham destaque
A câmara baixa polonesa, o Sejm, aprovou o Crypto-Asset Market Act (Projeto de Lei 1424) em 26 de setembro, com 230 votos a favor, 196 contra e nenhuma abstenção.
O projeto agora aguarda revisão pelo Senado. Se aprovado, posicionará a Polônia como uma das jurisdições com o mercado cripto mais regulado da União Europeia.
Segundo o novo marco, a Autoridade de Supervisão Financeira da Polônia (KNF) será o principal órgão regulador de todos os provedores de serviços de criptoativos, incluindo exchanges, emissores e custodians, sejam nacionais ou estrangeiros.
Os operadores precisarão obter uma licença da KNF e demonstrar fortes reservas de capital, sistemas de compliance robustos, protocolos de gestão de risco e procedimentos de combate à lavagem de dinheiro.
Um período de transição de seis meses permitirá que as empresas se adaptem às novas regras, mas violações podem resultar em multas de até 10 milhões de zlotys (US$ 2,8 milhões) ou penas de prisão de até dois anos.
Apoiadores da legislação, liderados pela relatora da Civic Coalition, Krystyna Skowrońska, argumentam que a lei é necessária para proteger investidores, estabilizar o mercado de ativos digitais em rápido crescimento e garantir alinhamento com os padrões da União Europeia.
Os proponentes afirmam que isso trará legitimidade a um setor frequentemente criticado por sua opacidade, ao mesmo tempo em que protege a Polônia de riscos financeiros sistêmicos.
Vozes do setor alertam para êxodo
Críticos, no entanto, alertam que a abordagem da Polônia vai muito além do que exige o regulamento MiCA da União Europeia.
Przemysław Kral, CEO da exchange europeia Zondacrypto, classificou a legislação como “um grande retrocesso”, argumentando que ela trata o cripto como uma ameaça em vez de uma oportunidade.
Ele observou que as novas regras podem criminalizar atividades básicas como o desenvolvimento de smart contracts, desestimulando talentos e investimentos no país.
Profissionais do setor temem que os requisitos rigorosos de licenciamento e regulação, combinados com o notoriamente lento processo de aprovação da KNF, que leva em média 30 meses, levem startups e operadores menores para o exterior.
Kral destacou a própria experiência da Zondacrypto: apesar de ter sido fundada na Polônia, a empresa é regulada na Estônia, onde paga mais de €6 milhões em IVA anualmente.
Essas relocações podem privar a Polônia de empregos, receitas fiscais e da chance de cultivar uma economia digital próspera.
O conhecido defensor do Bitcoin, Dominik Fel, ecoou essas preocupações, alertando que a Polônia corre o risco de se tornar um “museu da inovação” se a legislação entrar em vigor.
Políticos da oposição, incluindo o deputado da Confederation Krzysztof Rzońca, pediram ao presidente Karol Nawrocki que vete o projeto, argumentando que ele pode desmantelar o mercado doméstico de criptomoedas.
Apelujemy do Prezydenta @NawrockiKn o weto! Rząd forsuje ustawę, która zniszczy rynek kryptowalut w Polsce!
Konfederacja złożyła ponad 100 poprawek do tej ustawy. Wszystkie zostały odrzucone! @SlawomirMentzen z mównicy sejmowej rozłożył rządową narrację na łopatki! pic.twitter.com/OvIhPsPCYZ
— Krzysztof Rzońca (@KrzysztofRzonca) September 24, 2025
A divisão política da Polônia molda o debate
A votação expôs profundas divisões políticas.
A Civic Coalition, Poland 2050-TD, PSL-TD, a Left e Together apoiaram a lei, enquanto o partido Law and Justice (PiS), Confederation e os Republicans se opuseram.
O PiS anunciou planos para elaborar uma alternativa mais leve, modelada em outros marcos da União Europeia, que pretende apresentar em seu congresso no final de outubro.
Analistas sugerem que a decisão do presidente Nawrocki será fundamental para o futuro da Polônia em ativos digitais.
Embora ele pessoalmente não detenha criptomoedas, grupos libertários e pró-Bitcoin que apoiaram sua eleição estão fazendo lobby por uma abordagem regulatória mais leve.
A escolha do presidente pode determinar se a Polônia se posiciona como líder em supervisão cautelosa, mas amigável ao investidor, ou corre o risco de sufocar a inovação e perder sua economia digital emergente para jurisdições mais favoráveis.