Na Cimeira de Investimento de Nova Iorque, a declaração da BlackRock, a maior gestora de ativos do mundo, abalou todo o setor financeiro. Este gigante, que gere mais de 11 trilhões de dólares em ativos, elevou oficialmente o bitcoin ao mesmo patamar de importância dos títulos do Tesouro dos EUA e das ações das grandes tecnológicas.
Na Cimeira de Investimento realizada em Nova Iorque a 22 de dezembro de 2025, a BlackRock anunciou que o bitcoin passaria a ser considerado, juntamente com os títulos do Tesouro dos EUA e as ações das “Sete Grandes Tecnológicas”, um dos três pilares das carteiras de investimento diversificadas modernas.
O responsável pela divisão iShares da maior gestora de ativos do mundo apresentou esta estratégia, marcando a evolução da BlackRock de uma abordagem inicial aos ativos digitais para a sua integração profunda na visão macroeconómica central.
1. Enquadramento do Evento: Bitcoin entre os Ativos Nucleares
● A 22 de dezembro de 2025, numa cimeira de investimento em Nova Iorque, a BlackRock fez uma declaração decisiva: reconheceu oficialmente o bitcoin como o tema de investimento mais importante de 2025. O responsável pela divisão iShares da maior gestora de ativos do mundo apresentou uma estratégia inovadora.
● Esta estratégia coloca o bitcoin ao lado dos títulos do Tesouro dos EUA e das ações das “Sete Grandes Tecnológicas” como os três pilares das carteiras de investimento diversificadas modernas. Esta medida consolida a narrativa institucional deste ciclo de mercado e marca uma mudança fundamental na atitude das finanças tradicionais em relação ao bitcoin.
● O conceito central da BlackRock evoluiu de “oferecer acesso” a ativos especulativos para reconhecer o bitcoin como um componente fundamental da infraestrutura do sistema monetário global. Esta atualização de posicionamento reflete a evolução do papel do bitcoin aos olhos dos investidores institucionais.
2. Evolução Estratégica: De Sugestão de Alocação a Pilar Central
● Já em maio de 2025, na conferência Bitcoin 2025, a BlackRock sugeriu publicamente pela primeira vez que 2% da carteira de investimentos deveria ser alocada em bitcoin. Na altura, esta sugestão já gerou grande atenção no mercado, sendo vista como um sinal importante do aumento do reconhecimento institucional dos ativos cripto.
● Em outubro de 2025, o volume de ativos sob gestão do ETF spot de bitcoin da BlackRock ultrapassou os 100 mil milhões de dólares, equivalente a mais de metade do volume global dos ETFs de ouro. Este marco assinala a aceitação formal do bitcoin por Wall Street, integrando o ativo digital descentralizado no sistema financeiro centralizado.
● Até dezembro de 2025, a posição da BlackRock foi ainda mais reforçada, elevando o bitcoin ao estatuto de ativo central ao lado dos títulos do Tesouro dos EUA e das ações tecnológicas. Esta trajetória estratégica demonstra o aprofundamento do entendimento e posicionamento da BlackRock em relação ao bitcoin.
● Segundo dados institucionais, até outubro de 2025, instituições e ETFs detinham entre 6% e 8% do total de bitcoin em circulação, e os departamentos financeiros das empresas aumentaram as suas reservas em 245.000 bitcoins no primeiro semestre do ano. Estes dados mostram que o processo de institucionalização do bitcoin está a acelerar.
3. Quadro Teórico: “Espelho Macroeconómico” e o Posicionamento como Ouro Digital
● O argumento da BlackRock para 2025 assenta na teoria do “espelho macroeconómico”. Esta teoria defende que o desempenho do bitcoin reflete cada vez mais as preocupações globais com a dívida soberana e a desvalorização monetária. Com o défice federal dos EUA a aumentar e o desequilíbrio fiscal global a agravar-se, os analistas da BlackRock apontam que os investidores institucionais procuram ativos “não correlacionados” fora do sistema bancário tradicional.
● Ao posicionar o bitcoin como “ouro digital”, a BlackRock oferece aos investidores conservadores o quadro teórico necessário para justificar grandes posições neste ativo. Este enquadramento redefine o bitcoin de um ativo especulativo para uma ferramenta de reserva de valor.
● Jean Boivin, diretor do BlackRock Investment Institute, já afirmou que o bitcoin tem potencial para ser uma ferramenta de diversificação de retornos e um fator único de risco e retorno. Esta visão está a ganhar aceitação no setor financeiro tradicional, abrindo caminho para a institucionalização do bitcoin.
4. Reação do Mercado: Divergência entre Fluxos de Capital e Desempenho de Preço
● Apesar do ETF de bitcoin da BlackRock (IBIT) ter registado um retorno negativo de 9,6% em 2025, manteve-se em sexto lugar no ranking de fluxos líquidos de ETFs do ano. Este fenómeno é único entre os 25 principais fundos em entradas de capital — todos os outros apresentaram retornos positivos, sendo o IBIT o único com retorno negativo.
● O analista da Bloomberg, Eric Balchunas, destacou que este fenómeno de “entradas com retornos negativos” demonstra a determinação dos investidores em manter exposição ao bitcoin. Este comportamento aparentemente contraditório reflete, na verdade, a confiança dos investidores institucionais no valor de longo prazo do bitcoin.
● Do ponto de vista das transações, as subscrições líquidas do IBIT levam o fundo a comprar bitcoin no mercado à vista, convertendo o fluxo de capital em procura real. Os traders podem avaliar a força desta procura observando os dados de subscrições e criações líquidas durante o horário de negociação das ações dos EUA.
● A injeção de capital institucional pode estabilizar o preço do bitcoin, sendo relevante acompanhar os níveis de suporte entre 50.000 e 60.000 dólares para identificar potenciais oportunidades de compra. Ao mesmo tempo, a dinâmica entre mercados também merece atenção, já que o bitcoin é frequentemente correlacionado com índices de ações como ativo de risco.
5. Processo de Institucionalização: A “Mudança de Casa” de Wall Street
● A verdadeira razão por trás da forte valorização do bitcoin é a “mudança de casa” silenciosa dos gigantes de Wall Street. O sucesso do ETF de milhares de milhões da BlackRock não só abriu as portas das finanças tradicionais ao bitcoin, como também revelou a lógica profunda da transformação do sistema monetário global pela tecnologia Web3.
● O IBIT, atualmente o maior ETF de bitcoin dos EUA, já gere 72 mil milhões de dólares em ativos, com entradas líquidas diárias superiores a 500 milhões de dólares desde maio de 2025. A Bitwise prevê que os ETFs de bitcoin possam atrair 120 mil milhões de dólares em 2025, podendo ultrapassar os 300 mil milhões em 2026.
● Hunter Horsley, CEO da gestora cripto Bitwise, afirmou que, se as instituições de gestão de património alocarem 1% dos seus portfólios em bitcoin, isso poderá trazer “centenas de milhares de milhões” de dólares para o mercado de bitcoin. Esta previsão destaca o potencial impacto do capital institucional no mercado de bitcoin.
● A inovação de mecanismos da BlackRock também resolve o problema enfrentado pelas “baleias” do bitcoin. Os grandes detentores iniciais podem agora “transferir” bitcoin para o ETF sem que isso seja considerado uma “venda”, evitando impostos, podendo usar o ativo como colateral para empréstimos, e ainda assim provar na blockchain que continuam a ser os proprietários.
6. Da “Razão para Deter” à “Otimização da Posição”
Prevê-se que esta transformação atinja o auge em 2026 com o lançamento de produtos “geradores de rendimento” mais complexos. A BlackRock planeia lançar ETFs de rendimento premium de bitcoin, baseados em estratégias de opções cobertas de compra.
● Através destas ferramentas, a BlackRock está a transferir o debate do mercado de “por que deter bitcoin” para “como otimizar a posição em bitcoin”, consolidando assim o seu papel como principal guardiã do capital digital da próxima geração.
● A Nasdaq está a promover o aumento do limite de contratos de opções do fundo de bitcoin da BlackRock, mostrando que o mercado de bitcoin está a “livrar-se das rodas de apoio” e a evoluir para produtos financeiros mais maduros. Esta inovação de produtos impulsionará ainda mais a institucionalização do bitcoin.
● Ao mesmo tempo, a BlackRock está a explorar a tokenização e a aplicação da tecnologia blockchain, tendo lançado um fundo em versão blockchain registado na Ethereum. Esta abordagem híbrida permite aos investidores escolher entre a versão tradicional do fundo e a versão em blockchain.
7. Reconstrução do Ponto de Confiança do Sistema Financeiro Global
● O ETF de bitcoin de 100 mil milhões de dólares da BlackRock não aposta apenas na subida do preço do bitcoin, mas prepara o terreno para uma reestruturação do sistema de dívida no futuro. O que está em curso é uma “substituição de colateral” — transferindo a confiança do “crédito do governo” para a “escassez comprovada matematicamente”.
● Robbie Mitchnick, diretor de ativos digitais da BlackRock, afirmou que o uso generalizado do bitcoin para pagamentos diários no futuro é apenas “o valor opcional fora do dinheiro”. Isto significa que o potencial de aplicação do bitcoin vai muito além do seu atual papel como instrumento de investimento.
● Esta mudança não é apenas uma experiência financeira. O seu impacto pode ser maior do que se imagina: El Salvador adotou o bitcoin como moeda legal; alguns países sob sanções começaram a usar criptomoedas para contornar o sistema de pagamentos em dólares; alguns bancos centrais estão a estudar “reservas digitais”.
● No futuro, os ativos de reserva poderão não se limitar ao dólar, podendo incluir o bitcoin. Isto significa que os alicerces do sistema monetário estão a ser gradualmente reescritos, passando de um núcleo baseado no crédito governamental para um baseado na escassez matemática.
A tabela abaixo resume os principais marcos da estratégia de bitcoin da BlackRock em 2025 e o seu impacto no mercado:
O bitcoin está a atravessar uma fase crucial do seu desenvolvimento: impulsionado por instituições como a BlackRock, está a entrar rapidamente no mercado mainstream, ganhando gradualmente legitimidade, mas também enfrentando inevitavelmente o desafio de ver o seu espírito descentralizado diluído.
Independentemente do rumo futuro — seja uma integração bem-sucedida no sistema financeiro tradicional ou uma reação regulatória adversa — o bitcoin já não é apenas uma moeda digital simples. Está a tornar-se a “moeda forte” subjacente de Wall Street, liderando o setor financeiro global para uma nova era sustentada pela escassez matemática em vez do crédito governamental.
Esta transformação financeira liderada pela BlackRock responde não só à questão de como alocar ativos, mas também a uma questão secular: será que a escassez comprovada matematicamente pode coexistir e prosperar com o sistema financeiro existente, reconstruindo os fundamentos do armazenamento e troca de valor a nível global?

