O Bitcoin e a blockchain impulsionarão uma nova corrida espacial descentralizada?

Os principais projetos incluem a SpaceCoin, que está construindo uma rede blockchain baseada em satélites (DePIN), e a Copernic Space, que está tokenizando ativos espaciais do mundo real e domínios lunares.

Autor: Sandy Carter

Tradução: Block unicorn

Resumo

A tecnologia blockchain está democratizando o espaço ao transferir o controle das instituições tradicionais para a participação popular, por meio da propriedade e governança descentralizadas.

Os principais projetos incluem a SpaceCoin, que está construindo uma rede blockchain baseada em satélites (DePIN), e a Copernic Space, que está tokenizando ativos espaciais do mundo real e domínios lunares.

A blockchain TON inaugurou a “democracia espacial” ao selecionar astronautas civis para o voo da Blue Origin por meio de votação on-chain, permitindo que o público global participe da exploração espacial.

Introdução

Desde a primeira transação espacial de bitcoin até a tokenização de domínios lunares, a blockchain está impulsionando uma nova corrida espacial descentralizada, tornando o acesso e a propriedade mais acessíveis.

Quando criança, eu queria ser astronauta. Sonhava em flutuar em gravidade zero, ver a Terra girando abaixo de mim e, quem sabe, um dia caminhar na Lua. Embora nunca tenha ido ao espaço, minha vida deu uma guinada quando trabalhei na AWS, ajudando, junto com um colega, a pousar o rover em Marte.

Essa experiência me fez perceber que há muitas maneiras de explorar novos territórios e, hoje, uma das mais empolgantes não é por foguetes, mas por código. A blockchain, uma tecnologia que começou com moedas digitais, agora está se expandindo para a órbita espacial.

O espaço sempre inspirou a imaginação humana. Por décadas, foi domínio exclusivo de governos, bilionários e gigantes aeroespaciais.

Hoje, uma revolução silenciosa está trazendo a blockchain para o cotidiano de todos. A blockchain está indo além das finanças, entrando na órbita espacial e lançando as bases para uma economia espacial descentralizada.

O que é o espaço descentralizado?

O espaço descentralizado é a fusão da blockchain com a exploração espacial. Ele utiliza contratos inteligentes, tokenização e governança descentralizada para permitir que qualquer pessoa com uma carteira digital participe da economia espacial.

O espaço descentralizado não depende mais de algumas grandes instituições, mas permite que comunidades, criadores e investidores possuam e governem conjuntamente ativos como satélites, cargas úteis e até missões lunares. Ele traz transparência e inclusão para um campo historicamente exclusivo, criando uma rede aberta que estende o acesso e a propriedade além da Terra.

Ele combina a tecnologia espacial com os princípios de transparência, inclusão e propriedade verificável do Web3, criando uma rede aberta onde qualquer pessoa pode contribuir para a jornada da humanidade além da Terra.

De acordo com previsões da PwC, o espaço será a primeira nova classe de ativos trilionária do século XXI, e a primeira que pode existir nativamente em blockchain.

Por que o espaço descentralizado está relacionado ao bitcoin?

A origem do espaço descentralizado remonta ao bitcoin. Em 2019, um nó blockchain da SpaceChain foi lançado à órbita espacial a bordo do foguete Falcon 9 da SpaceX. Esse nó realizou uma transação multisig de bitcoin no espaço, marcando a primeira vez que blockchain e bitcoin foram transacionados em órbita. O bitcoin recentemente atingiu um recorde histórico e depois recuou — como um foguete!

A origem do espaço descentralizado remonta ao bitcoin. (Imagem: Dan Kitwood/Getty Images)

Esse marco provou que a blockchain pode operar além da Terra e sem depender de infraestrutura terrestre. Isso inspirou uma série de projetos explorando como ativos digitais e sistemas descentralizados podem apoiar futuras missões espaciais.

O que começou com o bitcoin agora se expandiu para um ecossistema completo, onde tokens, domínios e contratos inteligentes conectam pessoas ao espaço de maneiras inéditas.

Três projetos pioneiros lideram essa transformação

A SpaceCoin está criando uma infraestrutura blockchain operada por satélites.

A Copernic Space está tokenizando ativos espaciais e domínios digitais ligados a missões lunares.

A Open Network (TON), a blockchain por trás do Telegram, apoia a seleção de um astronauta real para um voo da Blue Origin por meio de votação on-chain.

Juntos, eles mostram como o futuro do espaço pode ser compartilhado por muito mais pessoas.

SpaceCoin e DePIN em órbita: muito além do bitcoin

A visão da SpaceCoin é simples, mas radical. Seu objetivo é criar uma rede de satélites que transmita transações blockchain diretamente pelo espaço, sem depender da internet terrestre. Em um teste recente, a SpaceCoin conseguiu transferir dados intercontinentais apenas via conexão de satélite. Esses dados não são apenas um sinal, mas um registro blockchain transmitido entre órbitas.

Esse conceito pertence a uma nova categoria chamada Rede de Infraestrutura Física Descentralizada (DePIN). Esses projetos usam blockchain para impulsionar infraestrutura do mundo real, não apenas sistemas digitais. A rede da SpaceCoin pode atender regiões remotas, áreas sob censura e equipamentos espaciais que precisam de comunicação segura sem depender da internet terrestre.

A SpaceCoin apresenta no Token 2049 como o DePIN pode operar no espaço - Sandy Carter

O impacto é enorme.

No evento Token 2049, conversei com Taekyung Oh, fundador e CEO da SpaceCoin, que me disse: “O espaço é a fronteira definitiva da descentralização. Com o DePIN, transformamos satélites em nós de uma rede global, onde conexão, computação e coordenação transcendem fronteiras nacionais — e até mesmo a Terra.”

Se a blockchain pode operar em órbita, sistemas de transação, identidade e governança não estarão mais limitados à Terra. Blockchains baseadas no espaço podem conectar o mundo, resistir à censura ou desastres naturais e preparar a era da comunicação interestelar. Apesar dos desafios — como custos de satélite, questões regulatórias e confiabilidade —, o conceito de blockchain realmente alcançando as estrelas já não é mais ficção científica.

Do bitcoin à Lua: Copernic Space e a economia espacial tokenizada - Sandy Carter

Do bitcoin à Lua: Copernic Space e a economia espacial tokenizada

Se a SpaceCoin fornece a infraestrutura, a Copernic Space oferece a propriedade e a infraestrutura financeira que impulsionam essa nova economia. A empresa conecta ativos espaciais do mundo real aos mercados globais de capitais por meio da blockchain, liderando a tokenização de missões, cargas úteis e até identidades digitais, mudando a forma como ativos espaciais são representados, financiados e negociados.

Você sabia? A Copernic Space fez parceria com a SpaceChain para criar um mercado comercial de ativos espaciais tokenizados. Essa colaboração se baseia no trabalho inicial da SpaceChain, que provou que a blockchain, representada pelo bitcoin, pode operar fora da Terra.

Recentemente, a Copernic Space colaborou com a Unstoppable Domains (meu empregador) para lançar a extensão de domínio .LUNAR, a primeira vinculada a missões espaciais reais. Cada badge .LUNAR será enviado à Lua em missões programadas para 2026-2027. Isso transforma cada domínio em um ativo do mundo real tokenizado relacionado ao espaço. Ter um domínio significa possuir uma identidade digital verificada que realmente viajará além da Terra.

A Copernic Space já demonstrou como esse modelo funciona na prática. Seu foguete comercializado e a primeira missão lunar deste ano já esgotaram, com mais de 2.000 cargas úteis tokenizadas, incluindo indivíduos e empresas pousando na Lua, gerando receita e retornos para os primeiros participantes.

Em conversa com Grant Blaisdell, CEO da Copernic Space, ele me disse: “A descentralização está devolvendo o espaço à humanidade. Pela primeira vez, pessoas de todo o mundo podem possuir uma pequena, mas significativa, participação em empreendimentos espaciais. Ao combinar blockchain com missões e projetos espaciais, estamos criando um ecossistema transparente e participativo, onde a próxima grande descoberta pertence a todos, não apenas a algumas instituições.”

Grant Blaisdell, CEO da Copernic Space, pioneiro do espaço descentralizado - Grant Blaisdell

A Copernic Space se posiciona como uma plataforma para comprar, vender e investir em projetos espaciais tokenizados. Esse modelo abre as portas para que indivíduos participem da economia espacial por meio da propriedade baseada em blockchain. A ideia é transformar o espaço em um mercado aberto e acessível, onde qualquer pessoa pode participar. Isso redefine nosso entendimento de propriedade digital. Em vez de possuir um site, você pode possuir um domínio que representa uma carga útil de foguete, satélite ou missão lunar.

Mas isso vai além de colecionáveis. Ao permitir a propriedade parcial de missões e infraestrutura reais, a Copernic Space torna a participação na economia espacial mais transparente, líquida e inclusiva. Embora a regulamentação sobre propriedade espacial ainda esteja evoluindo, a transformação já está em andamento.

Pela primeira vez, o espaço está se tornando um mercado para todos, não apenas para governos e grandes empresas.

TON, SERA e a nova democracia espacial

Enquanto a SpaceCoin se dedica à infraestrutura e a Copernic Space aos ativos, a TON está focada em abrir um canal direto para o espaço. A TON Foundation, organização por trás da blockchain do Telegram, fez parceria com a Space Exploration & Research Agency (SERA) dos EUA para lançar o Mission Control Center.

O programa utiliza blockchain para selecionar, por meio de votação on-chain, astronautas civis reais para um voo da Blue Origin.

A SERA garantiu seis assentos para a próxima missão New Shepard em 2026. Cinco deles são reservados para cidadãos de países sub-representados, como Índia, Nigéria, Brasil, Tailândia e Indonésia.

O sexto assento será concedido a um participante global selecionado por votação na blockchain TON. Os participantes usam a carteira TON integrada ao Telegram para ganhar pontos e votar. Cada voto é registrado on-chain, garantindo transparência e justiça.

Max Crown, presidente e CEO da TON Foundation, pioneiro da próxima geração do espaço descentralizado

“A SERA não é apenas mais um projeto de criptomoeda, mas um plano verdadeiramente único. É mais como um experimento, explorando o choque entre criptomoedas e uma cultura participativa e orientada por experiências”, disse Max Crown, presidente e CEO da TON Foundation. “Eles estão realmente levando pessoas ao espaço — basta ter Telegram e uma carteira para participar. Isso é insano. Sempre acreditei que as pessoas não se importam apenas com como a tecnologia funciona, mas com o que ela faz e como as faz sentir. Isso é o mais importante. Não estamos falando apenas de mudar vidas com tecnologia, mas de realmente colocar isso em prática. Este é o momento em que a blockchain deixa de ser apenas tecnologia e se torna experiência.”

Essa iniciativa é histórica. Marca a primeira vez que a tecnologia blockchain influencia diretamente quem pode ir ao espaço. O programa não depende mais de comitês governamentais ou patrocinadores corporativos, mas está aberto ao mundo. A TON chama isso de “democracia espacial”, onde os usuários podem ganhar a chance de viajar ao espaço participando de um processo tokenizado e transparente.

O significado vai além de uma única missão.

Mostra como a blockchain pode expandir a inclusão do sistema financeiro para a exploração espacial. A integração da TON com o Telegram oferece uma enorme base de usuários, aproximando bilhões de pessoas do sonho espacial. Não se trata apenas de tecnologia, mas de participação.

Perspectivas para o futuro do espaço descentralizado com bitcoin e blockchain

O caminho à frente não será fácil — a regulamentação ainda é a maior incógnita.

Não há respostas claras sobre quem administrará ativos lunares tokenizados ou como funcionará a responsabilidade em órbita. Barreiras técnicas como vida útil de satélites, custos de lançamento e latência de comunicação testarão cada inovação.

A adoção do mercado também depende de provar utilidade real além do hype.

Isso também envolve questões éticas. O espaço nunca deve se tornar outro local de desigualdade ou exploração. Se a blockchain abrir o espaço à participação, isso deve ser feito de forma justa e sustentável. Setores emergentes precisam equilibrar ambição e responsabilidade.

Apesar dos desafios, a direção é clara.

A economia espacial está se expandindo rapidamente, e a blockchain está se tornando parte de sua infraestrutura. SpaceCoin, Copernic Space e TON estão mostrando como a descentralização pode tornar essa última fronteira mais aberta e inclusiva.

Isso é importante porque marca uma mudança de poder e possibilidades. A tecnologia que tornou as finanças mais inclusivas agora está trazendo a mesma transformação para a exploração e descoberta.

À medida que esses projetos avançam, em breve poderemos testemunhar a primeira transação blockchain feita do espaço, o primeiro domínio lunar e o primeiro astronauta totalmente selecionado por votação descentralizada.

A distância entre o ciberespaço e o espaço sideral está diminuindo. A revolução da blockchain e do bitcoin já deixou oficialmente a órbita da Terra.